
Digo adeus à enorme Luanda através da pequena janela do avião. Olho a medo para a cidade lá do alto e sinto e recordo a mesma emoção que senti da primeira vez que a avistei: Luanda é mesmo assustadora. E assustadoramente feia.
Fecho a janela e também os meus olhos, como quem carrega no off de qualquer botão, desligando em urgência as emoções. Respiro só por um largo momento e penso nos momentos que se seguem. Recapitulo os próximos capítulos e revisito em pensamento a minha família. Só ela me preenche e invade de uma intensa e brutal saudade. E aqui a palavra saudade também existe e se sente como tatuagem no corpo: só desaparece se tirarmos uma parte de nós mesmos.
Abro de novo os meus olhos. Sorrio olhando para o lado em contemplação e assim me deixo adormecer, vazio e só feliz por dentro. Hoje deixo Luanda e volto para casa, em serenos sobressaltos. Deixo Luanda e desta vez digo adeus sem vontade de voltar... Afinal não deixo nada para trás: levo comigo metade do que me importa e parto ao encontro da outra metade de mim. Parto assim sentindo em mim a vida inteira.
Mas sei que vou voltar. Em breve, de novo e como novo. Sei que tenho de voltar... E quero voltar sorrindo e com a mesma alegria com que agora digo adeus. Espero conseguir.
Volto sim... Por agora vou só respirar um pouco de mim. Porque preciso. Porque quero sentir o frio no rosto e o calor no coração. Porque quero abraçar minha família e minha vida. Preciso do seu abraço. Porque preciso agora, mais que nunca. Porque a vida não pára, e não pára de nos surpreender.
Vou por isso libertar minhas amarras e abrir os braços à vida, como a vela de um barco sentindo o vento. Vou e volto... num adeus de até breve.