Difícil não é sentir a falta de quem nos faz falta.
É pensar no tempo que falta, no tempo que não volta e sufoca, e nas voltas da vida que o tempo nos dá. Fica a esperança de que o tempo aqui me sorria e me traga a vida de volta.
E tem sorrido...


25.2.08

Mais...

Muitas vezes sinto que acabo por me repetir...
É que tudo me parece mais do mesmo: beleza rara e infinda. A verdade é que me sinto fascinado com cada experiência que partilho e com cada lugar que descubro neste pequeno grande recanto do mundo. Angola tem tanto...e tanto mais para descobrir!
Sábado rumámos para norte, rumo incerto à procura de uma praia que se diz quase mítica: a praia de Santiago. Mítica pela sua beleza, que tanto ouvi falar com misterioso brilho nos olhos de quem conta histórias em noites de luar. Mítica porque em tantos e tantos meses ouvi falar dela, mas nunca soube lá ir ter ou chegar. Até hoje, em que finalmente chegou o dia certo e a incerta aventura. Assim partimos sorrindo deixando para trás a confusão de Luanda, seguindo a estrada de tristeza até ao Caxito e virando algures no meio do tempo e da estrada em direcção ao mar a oeste. Seguimos por mais estrada em caminhos de pó. Imenso pó como nevoeiro denso e feito de tão leve poeira, como se fosse apenas vapor de terra. O horizonte indistinto aos poucos foi aparecendo, como se o próprio mar fosse o sol em cada aurora. Os nossos olhares curiosos presos em crescente ansiedade, tentando olhar mais à frente, apressando o deslumbramento. Eis então que a encontrámos, pouco depois, com o mesmo desejo de quem encontra um oásis no meio do deserto. E que linda é a praia de Santiago!
Praia deserta aos nossos olhos, de imensa areia branca e mais suave que o mar. E na areia branca brilham vivas inúmeras estrelas do mar. E no mar escuro brilha a areia branca em reflexo e um sol de meio dia perfeito. E no mesmo mar, velhos e imponentes navios gastos pelas ondas e despidos pelo tempo ali descansam perdidos e esquecidos, até à eternidade.
Certo estou que foram eles que escolheram este lugar para seu eterno repouso. Se eu fosse um navio faria certamente para aqui a minha viagem derradeira.
Ao longe perdem-se na vista muitos outros barcos mudos, junto à praia que nos parece interminável. Umas poucas casas ao longe e outras mais perto de nós, das quais não se distingue nem sombra nem movimento. Para trás ficaram as dunas e um mar de planície que separa a praia do resto do mundo. À nossa frente apenas a calma e a serenidade de um mar sem fim, que nos contagia com as suas próprias emoções.
O silêncio ali é cortado apenas pelas nossas vozes. Apenas nós. E nem o som das vagas ondas se distingue no silêncio daquela praia. Naquela praia, só nós e o tempo que passou.

2 comentários:

Anónimo disse...

Confesso! Estes teus textos causam-me uma certa inveja... Mas não da ruim, que dessa ninguém precisa! ;)

Acho fantástico o texto. Quase consegui imaginar-me lá!

;) Baci

Peter disse...

Olá Sophia :)
Estive desligado por uns tempos... Mas eis que regresso à escrita e tenho logo a tua feliz resposta. Estás sempre aí, dando-me ânimo para continuar escrevendo. Mil obrigados :)

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