Difícil não é sentir a falta de quem nos faz falta.
É pensar no tempo que falta, no tempo que não volta e sufoca, e nas voltas da vida que o tempo nos dá. Fica a esperança de que o tempo aqui me sorria e me traga a vida de volta.
E tem sorrido...


19.7.07

Dia 39 - A Gasosa

A gasosa aqui é a moeda de troca nas ruas. De troca por nada. Mas todos a querem e tudo se obriga a trocar por uma gasosa. Mas atenção… não confundir.
Gasosa? Ah, gasosa é fácil! Gasosa aqui é gorjeta. Claro. E todos a pedem. Por tudo e por nada. Os arrumadores, os putos e os seguranças da rua. Nos restaurantes, nos hotéis e até nos hospitais. E a polícia, cá está. Essa pede descaradamente.
Bem… a verdade é que nem todos pedem. A polícia sim. Mas é normal dar-se quase sempre qualquer coisa a qualquer gente por quase nada. Uns cem ou duzentos Kwanzas satisfazem o arrumador ou segurança de rua que nos guarda o carro por uns momentos. E até que é merecido. Mas atenção que dá-se a nota sempre no fim, quando voltamos ao carro e ele ainda lá está. O carro.
O mesmo valor de 100 Kz satisfaz igualmente a criança que nos aborda na rua ou quem nos serve à mesa no restaurante. Para quem quiser dar, claro. Mas é normal que se dê.
Quanto à polícia que nos manda parar…bem, aí o valor a dar depende sempre da razão. E do número de polícias que ali estão. E da boa disposição também. A deles e a nossa. Se tivermos os documentos todos, os ‘normais’ documentos pessoais e do carro, não há problema e passa-se com uns 20 dólares, cujo motivo da coima pode ser até pela cor do nosso carro. Mas normalmente é pela cor da nossa pele. Se nos falta um documento importante, isso pode ir até aos 100 dólares, dependendo também dos factores que acima mencionei. E é preciso saber negociar, claro. Normalmente a conversa começa com: - Senhor agente, e como é que podemos resolver isto?
Fácil. Uma gratificação que sai das nossas mãos e logo se cola e se reparte nas deles.
Afinal tudo aqui funciona e se move com gratificações. É apenas isso que temos de entender que é de facto visto como algo normal. E temos de nos render às evidências: o país inteiro foi assim construído, e é só assim que nele se vive e resiste.

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