Difícil não é sentir a falta de quem nos faz falta.
É pensar no tempo que falta, no tempo que não volta e sufoca, e nas voltas da vida que o tempo nos dá. Fica a esperança de que o tempo aqui me sorria e me traga a vida de volta.
E tem sorrido...


13.11.07

Tanto, mas tanto...

É tanto o que tenho para dizer, para contar.... Seriam precisas mais de mil palavras.
Mas afinal eu sei que apenas é necessária uma: Apaixonante!
Adorei o Lubango. Amei. A antiga Sá da Bandeira invadiu-me a alma e o coração de uma forma que nem eu sei explicar. Foi tão intensamente forte! Compreendo agora a paixão que Angola transmite, a quem aqui veio e ficou, ou a quem veio para ficar. Compreendo agora que Angola não é só Luanda, felizmente! Aliás, Luanda não é Angola. Ponto.
Mas vou começar pelo princípio: Sábado, 4 horas da manhã, Aeroporto 4 de Fevereiro em Luanda - Voos domésticos. Fico desiludido porque afinal o aeroporto nem é mau de todo. Tem sala de espera, com ar condicionado e um bar. Bom ar. Estranho, tinham-me dito tão mal! Seguiram-se aqui 4 horas de ansiedade e de sono pelo avião que só partiu depois das 8 da manhã. Outra desilusão: o avião afinal era novo!?! Assim não! Eram condições a mais. Inesperadas! Mas o destino que me esperava era Lubango. Ainda mais inesperado.
Chegamos lá a meio da manhã. Tarde. Longa se torna a espera até todos estarmos reunidos e partir enfim para uma casa que teríamos ainda de procurar... E procurámos.
Lubango fica num vale, entre montanhas. A sensação que nos dá é de que estamos em Portugal, numa vila serrana qualquer, nas Beiras. Protegido e escondido entre as montanhas, como se qualquer chegada aqui fosse uma grande descoberta para quem a encontra. Fascínio quase irreal.
As ruas largas limpas e decoradas por casas baixas e coloridas. As pessoas. As crianças brincando na rua, em mistura de cores numa única cultura. Sem raças nem distinções. Os edifícios principais, coloniais e monumentais que surgem na ampla praça da cidade, com fontes luminosas entre os arrumados passeios e as árvores de fruto. Jardins. Tudo isto me dá a perfeita sensação de que descobri, encontrei Portugal em Angola. E encontrei-me a mim mesmo também. Sim.

Chegamos enfim à casa. Encontrámo-la por fim. Enorme casa na serra. Na Senhora do Monte, com uma grande varanda sobre toda a cidade. Local de contemplação. Descanso aí a vista e também o corpo, da viagem e da ansiedade. Respiro um pouco então… de emoção. Ainda e depois. Irrealidade e liberdade.
Subimos à tarde pela serra, nove pessoas com uma “Hiace” (aqui lê-se tal e qual como se escreve) por montes e vales e rochas, até à mãe das contemplações. A Tundavala. A Tundavala é uma fenda da mãe natureza, a dois mil metros de altitude, e que nos assombra com uma visão estonteante. Vertiginosa para os sentidos. Silêncio. Calma. Religioso até… É um corte quase perfeito na rocha, a direito e a pique, por dois mil metros. Lá em baixo, muito baixo, até onde a vista pode alcançar, é o perfeito deslumbramento. O horizonte aos nossos pés, bem lá em baixo. Incrível!


O dia tornou-se curto, muito curto, com a noite que chegou apressada. Jantamos em harmonia no Huíla Café, bem no meio da cidade e respiramos mais um pouco, em quase suspiros de olhos fechados. É tão bom o nosso sentir… E a ansiedade continuava desperta em nós, por mais um dia, mais e muitos momentos de deslumbramento.
No dia seguinte seguimos cedo o caminho longo para o mar, em direcção ao Namibe. Antes paramos para redenção no Cristo Rei, que abraça toda a cidade do alto da serra. E que desejo o meu, de a abraçar também!


Continuamos depois a viagem pela estrada quase deserta, chegando pouco depois à Serra da Leba. Serpente que desce a colina em perfeita comunhão. Sim, a foto do post anterior… mais palavras para quê?
Depois da serra a estrada deserta chega ao deserto. Imponente, mesmo. Paisagem quase lunar, e bem mais perto do sol. Do céu! De mim… Beleza pura, sensação de liberdade. Vontade de estender os braços e gritar bem alto os nossos sonhos e desejos. Fascinante. Silêncio de novo, com olhos bem abertos de contemplação. Inesquecível.

Chegamos ao Namibe. Cidade calma, arrumada e limpa, bem junto à praia. Com ar de praia. Linda. Mergulhamos e bebemos um pouco mais desta sensação de estar tão longe de tudo, e ao mesmo tempo tão perto de nós. Um almoço, um passeio pelas praias ali perto, um sol que se esconde depois entre as nuvens. Um adeus de repente, um regresso prometido. Voltamos enfim ao Lubango, revisitando o deserto que o sol escolheu para dormir.
A noite trouxe as estrelas que nos fizeram companhia. Testemunhas. E tantas estrelas! O céu inteiro! A elas pedi desejos eternos, outros fugazes, mas desejos sinceros. E na varanda de casa me fui perdendo, ou encontrando, inspirando toda a cidade que dorme aos meus pés. Visão presente, em passado e futuro reunidos. Começo assim a sonhar ainda antes de adormecer. Adormeço depois a sorrir. Cansado, mas a sorrir.

Segunda-feira foi dia de regresso. Atribulado e triste pelas sensações que ficam em nós mas que se deixam de viver, assim. Não só pelo que se deixa e se viveu para trás, mas sobretudo pelo regresso a Luanda, pelo que se reencontra e que aos nossos olhos nos parece ainda mais triste e degradante. Choveu no regresso, como se Lubango chorasse o nosso adeus, tal como nós choramos a nossa despedida, como o final das emoções vividas. A vontade era de ficar… Lubango. Mão no peito, olhar no infinito. Mais umas horas, uns dias, quem sabe. A vontade é de regressar, por mais uns dias, umas semanas, talvez. A vontade real é talvez de ir e ficar. Vida inteira, quem sabe. Fica a vontade.

Sim, foram momentos vividos que ficarão em mim para sempre. Sim, foi um deslumbramento para a vida e que estará sempre presente. Sim, para sempre. Ficaria lá para sempre. Quem sabe? Só Deus sabe…

Bem, cheguei bem perto das mil palavras afinal... E voltando de novo ao resumo inicial, preciso afinal de mais duas palavras: Mágico. E Eterno.

13 comentários:

Anónimo disse...

Acho que este teu texto vai ser copiado p'ra promover viagens a Lubango.

Usaste quase mil palavras... eu não uso nenhuma, porque fiquei sem elas ao ler esta descrição!

:) baci

P.S.Hum... lembrei-me de duas: texto fabuloso!

Anónimo disse...

Que bela descrição...

Que belo post...

Que belo escritor...

Mais uma vez, adorei.

Bjcas e vai aproveitando

Silvia

Peter disse...

Oi Sophia!! Uau :) Escrevi com o coração, apenas isso. Vindo de ti deixa-me ainda mais orgulhoso, pois o teu Egos é sempre minha companhia e inspiração. E emoção também. :)
Beijos e obrigado!

Peter disse...

Oi Silvia!
Obrigado pela companhia também aí desse lado, e pelo elogio :) Fico muito feliz!
Espero que esteja tudo bem por aí, e daqui segue também um abraço alargado, e beijinhos, from Luanda.

Anónimo disse...

Oi, Nepo:

As fotografias trazem-me uma pontinha de inveja, porque só posso visitá-los sentado nesta estúpida secretária.
Mas... são divinas e imagino a beleza de contemplares lugares como estes que nos mostras.

Um grande abraço para ti, meu amigo.

Com saudade

Tozé

Anónimo disse...

Oi, Nepo:

As paisagens são lindíssimas, e, perdoa-me esta fraqueza humana, dizer-te que uma ténue inveja invadiu-me o pensamento, porque, neste preciso momento estou sentado nesta estúpida secretária, lamentando não ter asas e poisar num lugar como esses visitado por ti.

Com muita saudade

Abraço

António

Helder disse...

Saudade...saudade...desse meu amigo Nepomuceno...
Saudade...ó saudade...

Volta rápido, miúdo.

Aquele abraço,

H

Orlando Gonçalves disse...

Palavras para quê. Deixaste-me sem elas e com um aperto no coração que só visto mesmo. Fiquei com as tuas palavras na cabeça muito tempo e fiquei a sonhar com essas paisagens. De facto essa terra deve ter algo muito especial, porque quem vai fica apaixonado. E tu já estás a ama-la. Continua a viajar e a contar o que os teus olhos vêm e o coração sente para assim todos nós, os que estamos deste lado, ...sonharmos.
Um forte e grande abraço, deste teu amigo e leitor

Peter disse...

Tozé,
Pena não poderes estar comigo e viveres estes momentos que, sim, são únicos. Sei que os viverias ainda mais intensamente, como sempre o fazes em tudo o que gostas na vida. Estás por isso sempre presente.
Abraço!

Peter disse...

Querido H.,
Saudades sim... e vontade de estar contigo! Necessidade mesmo...
Em breve... sim, em breve.
Abraço forte!

Peter disse...

Orlando,
Ainda bem que te ajudo a sonhar. Eu próprio aqui nem sei por vezes distiguir o sonho da realidade. Este fim de semana foi único... quase irreal mesmo.
Quem me dera que conhecesses mais que as palavras que escrevo.
Um dia, talvez :)
Abraço!!

Anónimo disse...

Amigo Peter,
Fiquei "aterrado" com as tuas palavras. Sei de muitas histórias de Sá da Bandeira (os meus Pais já lá estiveram), mas tu superaste todas as descrições.
Um abraço amigo,
NA

Peter disse...

Oi Nor!
Meu grande e saudoso amigo!
Obrigado :) Ainda bem que gostaste...E qualquer dia fazes-me uma visita por lá...ok? ;)
Grande abraço!

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