Difícil não é sentir a falta de quem nos faz falta.
É pensar no tempo que falta, no tempo que não volta e sufoca, e nas voltas da vida que o tempo nos dá. Fica a esperança de que o tempo aqui me sorria e me traga a vida de volta.
E tem sorrido...


15.3.08

Regresso


Eis que voltei depressa. Meio à pressa e sem pressa. Olhei para trás mais uma última vez, tentando gravar com o olhar todo aquele momento na memória. Guardei cada respirar de emoção e cada olhar de ternura, para recordar depois a vida inteira. Na invulgar e feliz despedida, com um sorriso e um olhar de menino, lá segui confiante a luz do meu novo destino, voltando afinal ao mesmo destino de sempre: Angola.

Confesso que a vontade de ficar era bem mais forte do que tudo: afinal naquele momento o meu mundo estava todo ali... bem presente naquele presente. Por isso, e sem querer, resisti à partida. Hesitei na felicidade, temendo conseguir ser mais feliz. Mas de novo peguei em tudo o que me espera lá bem longe e no tudo que levo comigo, bem pertinho e junto ao peito. E esse tudo é também a ansiosa incerteza do que virá, a meias com a forte certeza de que tudo irá correr bem. Sinto que sim, como sempre. Tem sido assim.

O que mudou é que a palavra regresso sempre teve em mim um destino chamado casa. Tal como em cada um de nós existe sempre um sítio a que chamamos de nossa terra. Regressar a casa sempre me deu aquela prévia ansiedade que aperta forte o coração, sem hesitação, e que me faz sorrir mesmo antes do regresso. Regresso sempre foi para mim um finalmente, um respirar de contentamento, um acabar de sufoco, um voltar e nunca um partir. Mas desta vez, e por vez primeira, sinto ao partir que estou a regressar. Regresso à minha vida, à vida que agora me espera, depois de tanto passado. E agora o meu presente é tudo o que tenho e tudo aquilo que escolhi. O meu futuro é apenas pura incerteza, mas aceito-o confiante e de livre e própria vontade. Não sei se tudo o que acontece nos é afinal predestinado... mas a verdade é que gosto de pensar que sim. Como hoje ouvi de um amigo, afinal o mundo não pára de girar e nós também não podemos parar. E é nesse simples movimento que nos encontramos e desencontramos, entre nós e a nós mesmos.

Deixo lá longe o cais do meu presente e entrego-me inteiro ao sabor das marés que já me conhecem. Regresso por isso a Angola.... pela primeira vez. Encontrando-me.

1.3.08

Até breve


Digo adeus à enorme Luanda através da pequena janela do avião. Olho a medo para a cidade lá do alto e sinto e recordo a mesma emoção que senti da primeira vez que a avistei: Luanda é mesmo assustadora. E assustadoramente feia.

Fecho a janela e também os meus olhos, como quem carrega no off de qualquer botão, desligando em urgência as emoções. Respiro só por um largo momento e penso nos momentos que se seguem. Recapitulo os próximos capítulos e revisito em pensamento a minha família. Só ela me preenche e invade de uma intensa e brutal saudade. E aqui a palavra saudade também existe e se sente como tatuagem no corpo: só desaparece se tirarmos uma parte de nós mesmos.
Abro de novo os meus olhos. Sorrio olhando para o lado em contemplação e assim me deixo adormecer, vazio e só feliz por dentro.
Hoje deixo Luanda e volto para casa, em serenos sobressaltos. Deixo Luanda e desta vez digo adeus sem vontade de voltar... Afinal não deixo nada para trás: levo comigo metade do que me importa e parto ao encontro da outra metade de mim. Parto assim sentindo em mim a vida inteira.
Mas sei que vou voltar. Em breve, de novo e como novo. Sei que tenho de voltar... E quero voltar sorrindo e com a mesma alegria com que agora digo adeus. Espero conseguir.
Volto sim... Por agora vou só respirar um pouco de mim. Porque preciso. Porque quero sentir o frio no rosto e o calor no coração. Porque quero abraçar minha família e minha vida. Preciso do seu abraço. Porque preciso agora, mais que nunca. Porque a vida não pára, e não pára de nos surpreender.
Vou por isso libertar minhas amarras e abrir os braços à vida, como a vela de um barco sentindo o vento. Vou e volto... num adeus de até breve.

27.2.08

Que M....


17.00: Saio do trabalho e pego no carro. O objectivo é chegar a horas à clínica dentária, cerca de 2 Km e hora e meia de distância. Pouco preocupado com a distância e o tempo, pois afinal tenho 90 minutos para fazer 2 Km... Mais preocupado sim com o resultado final da consulta e com o sofrimento que adiei... até hoje. É que extrair um dente em Angola é mais que motivo para preocupação...

17.30: Reparo que estou ainda no meio do trânsito... Andei 200 metros, se tanto... Mas continuo confiante. Deve ser só aqui a confusão desta rua, depois é sempre a andar...

18.00: Ainda estou na mesma rua e já decorei os anúncios todos nas casas de ambos os lados. Já meti a conversa em dia pelo telemóvel e sintonizei e gravei as estações de rádio que mais me interessam. Cantei um pouco, até reparar que no carro ao lado estavam a olhar para mim e a julgar-me doido. Contive-me. Vi finalmente se a documentação do carro estava ok e repreendi-me quando olhei para a porta e vi o lixo que se acumula, com os pacotes de leite e de sumo vazios que são por vezes o meu pequeno-almoço. Olho para o relógio e apercebo-me incrédulo que em meia hora andei apenas 10 metros. M…

18.30: Já comprei pastilhas a um miúdo que passou, para aliviar o meu stress. O ar condicionado do carro é fraquinho e começo a sentir um calor que nem sei se é do sol ou do nervosismo. Tento não pensar na consulta e no dente que vou extrair, mas acaba por se tornar inevitável. Penso que devia ter tomado o último Clonix, ou alguns comprimidos para dormir, mas que se lixe... Sou forte, não é? Ligo para a clínica, a informar que devo chegar um pouco atrasado... Afinal andei apenas mais 10 metros, mas a rua também está a acabar... Agora é só passar o cruzamento e depois é sempre a abrir. E da clínica respondem-me com o tradicional "- Não há problema”. Relaxo...

19.00: Começo a dizer asneiras. - E os carros não andam porquê? - Tu aí, anda mas é com isso! Passei o cruzamento mas o trânsito continua parado. Estudo outras alternativas, outros caminhos para chegar mais depressa ao mesmo destino... Mas aqui é tudo sentido único, não tenho hipóteses, nem para trás nem para a frente. Bem, o que vale é que liguei para a clínica a dizer que estava atrasado... Não há problema.

19.30: Estou quase, quase a chegar! É já a rua seguinte! Já sorrio, um pouco sem razão, porque afinal vou tirar um dente, não devia estar a sorrir... Mas ao menos saio deste trânsito infernal. E além disso dói-me o corpo de estar tanto tempo sentado no carro. Ai, que vontade de chegar ao dentista! Está quase! Já canto de novo, por entre as asneiras e um trânsito nunca visto...

19.45: Toca o telefone. Olha, é da clínica! Fixe, se calhar estão preocupados comigo... – Senhor, já passou da hora, fechamos às 19.30, não vai dar. - Mas eu estou já aqui! E é só virar a esquina e estou já aí! - Sim, mas o doutor já foi embora... não vai dar. - Mas a senhora disse-me que não havia problema... Eu liguei a dizer que estava atrasado e além disso estive 3 horas no trânsito para cá chegar! - Pois... mas agora só para a semana. - Que m...! Olha, vai… E chamo-lhe alguns nomes e desligo só depois.

20.00: Continuo chamando-lhe nomes enquanto perco a paciência no trânsito intransitável e nas horas intermináveis que me esperaram no ansioso regresso a casa.

25.2.08

Mais...

Muitas vezes sinto que acabo por me repetir...
É que tudo me parece mais do mesmo: beleza rara e infinda. A verdade é que me sinto fascinado com cada experiência que partilho e com cada lugar que descubro neste pequeno grande recanto do mundo. Angola tem tanto...e tanto mais para descobrir!
Sábado rumámos para norte, rumo incerto à procura de uma praia que se diz quase mítica: a praia de Santiago. Mítica pela sua beleza, que tanto ouvi falar com misterioso brilho nos olhos de quem conta histórias em noites de luar. Mítica porque em tantos e tantos meses ouvi falar dela, mas nunca soube lá ir ter ou chegar. Até hoje, em que finalmente chegou o dia certo e a incerta aventura. Assim partimos sorrindo deixando para trás a confusão de Luanda, seguindo a estrada de tristeza até ao Caxito e virando algures no meio do tempo e da estrada em direcção ao mar a oeste. Seguimos por mais estrada em caminhos de pó. Imenso pó como nevoeiro denso e feito de tão leve poeira, como se fosse apenas vapor de terra. O horizonte indistinto aos poucos foi aparecendo, como se o próprio mar fosse o sol em cada aurora. Os nossos olhares curiosos presos em crescente ansiedade, tentando olhar mais à frente, apressando o deslumbramento. Eis então que a encontrámos, pouco depois, com o mesmo desejo de quem encontra um oásis no meio do deserto. E que linda é a praia de Santiago!
Praia deserta aos nossos olhos, de imensa areia branca e mais suave que o mar. E na areia branca brilham vivas inúmeras estrelas do mar. E no mar escuro brilha a areia branca em reflexo e um sol de meio dia perfeito. E no mesmo mar, velhos e imponentes navios gastos pelas ondas e despidos pelo tempo ali descansam perdidos e esquecidos, até à eternidade.
Certo estou que foram eles que escolheram este lugar para seu eterno repouso. Se eu fosse um navio faria certamente para aqui a minha viagem derradeira.
Ao longe perdem-se na vista muitos outros barcos mudos, junto à praia que nos parece interminável. Umas poucas casas ao longe e outras mais perto de nós, das quais não se distingue nem sombra nem movimento. Para trás ficaram as dunas e um mar de planície que separa a praia do resto do mundo. À nossa frente apenas a calma e a serenidade de um mar sem fim, que nos contagia com as suas próprias emoções.
O silêncio ali é cortado apenas pelas nossas vozes. Apenas nós. E nem o som das vagas ondas se distingue no silêncio daquela praia. Naquela praia, só nós e o tempo que passou.

18.2.08

O Super


Sexta-feira é sempre o melhor dia para cometer loucuras, sobretudo depois de uma semana de doidos. Autêntica. Por isso achei por bem ser doido e ir até ao festival Super Bock Super Rock aqui em Luanda. No Estádio da Cidadela. E porque não? E eu que até nem bebo álcool...

Bem, mas umas horas antes até almocei com o João Cabeleira, dos Xutos e Pontapés. Apareceu meio cambaleando e desorientado na Tendinha e acabei por pagar-lhe o almoço e dar-lhe também um autógrafo. Merecido. Pois é, os Xutos também vieram. Mas esses sim são malucos mesmo... em grande.

Ok pronto... a parte do autógrafo é mentira: não tinha caneta comigo.

E assim fui ao início da noite para o fim do mundo. A princípio a medo, por entre os milhares de pessoas que se aglomeravam à entrada do estádio... E Medo porque realmente éramos os únicos algo "diferentes" por entre esses milhares de pessoas, e entre o dobro dos olhos desses milhares de pessoas olhando para nós. Vigiando-nos. Depois sentimo-nos mais confiantes, seguindo as filas indianas que curiosamente as pessoas respeitavam sem qualquer hesitação até à porta de acesso ao estádio. Ok... talvez os polícias com cães de guarda e bastões ameaçando agredir as pessoas para que elas se mantivessem em fila única tivesse ajudado um pouco para isso... Hum... Pois, era isso. Mas lá entrámos cercados, cerca de uma hora depois.

Já dentro do estádio... senti um arrepio. Mais milhares de pessoas enchiam o reduto no relvado (?) e nas bancadas, dando ainda mais calor à noite quente. Resmas de gente, num ambiente colorido e surpreendente. No palco, o grupo angolano Impactus 4 dava o ritmo e o ambiente q.b. para animar a festa. Muito bom!

Conseguimos lugar na bancada, num lugar tranquilo (dentro do possível...) mas longe do palco. Animado. Com o Dj Malvado (um Dj, como é normal num festival de ROCK...) no intervalo, vieram depois os Xutos e Pontapés. E pontapés só no palco mesmo. À nossa volta toda a gente dançou, pulou e cantou todos os êxitos com que eles nos brindaram. E nós brindámos a eles. Epá, é mesmo impressionante como os nossos dinossauros são conhecidos em todo o lado, até mesmo em Angola! Regressei por momentos a Portugal. "À minha casinha". Senti-me lá mesmo. Recuei nostálgico no espaço e no tempo, aos meus tempos de adolescente. Fiquei quase sem voz. Lembro-me que o primeiro concerto que fui na vida foi mesmo de Xutos e Pontapés, há já (...) bem, há bué anos. E desta vez foi como se tudo se repetisse, como uma segunda primeira vez... Entretanto cheguei à conclusão de que sei ainda de cor as letras! "À minha maneira" e "Não sou o único" foram puros exemplos disso. E não era mesmo o único a olhar o céu daquela noite. Foi mesmo um festival com sabor autêntico.

NDR - A parte do "não bebo álcool" é mesmo verdade... E já lá vão 15 dias, um autêntico record pessoal. Senhores artistas, abram os olhos! Para quando o festival Super Sumo Super Rock? Pode ser???

12.2.08

E fui ao Dentista

É assumido que não gosto de dentistas. Aliás, só a ideia de ir ao dentista assusta-me e faz-me tremer as pernas em qualquer circunstância e em qualquer parte do mundo. Aquele cheiro típico da sala de espera, o fssssssttt arrepiante que provém das salas de tortura e que se ouve enquanto folheamos as revistas do ano passado... Enfim, é mais um dos meus traumas de infância, confesso... Juro sempre para nunca mais!
Mas teve que ser. Um dente com o qual tenho já uma velha relação de inimizade resolveu chatear-me logo agora e dar-me de presente uma dor contínua e insuportável, daquelas que nem dá para pensar. Não. Dei por isso por mim procurando e encontrando farmácias e remédios pela noite na cidade. E encontrei mesmo um spray milagroso que me aliviou a dor por uns... segundos. 10, praí. Recorri então desesperado à caixa de Clonix que tinha na mala, num estojo que nunca abri (o mesmo onde está o Mephaquin, o tal substituto do gin tónico, segundo dizem) e tomei um. Depois mais um. E outro. Em 12 horas foram 4 comprimidos. Não me lembro bem se sonhei ou se vi mesmo elefantes cor de rosa e estrelinhas azuis a flutuar pelo quarto... mas a verdade é que consegui passar bem essa noite. Menos mal.
Acordo decidido e sem alternativas no dia seguinte e vou de emergência a uma clínica dentária. A melhor de Luanda, segundo me disseram. E talvez seja.
Passadas 2 horas e 80 dólares depois, mais uma injecção para as dores e mais antibíóticos e anti-inflamatórios lá deixei de tremer. Mas não me fizeram nada ao dente... Nadinha mesmo.
- Tá inflamado, não pode tratar. Vai levar medicamentos para 5 dias e volta depois. Daqui a 9 dias, que é quando há vaga. Antes não.
Ok, jurei de novo que nunca mais!
E passaram os 5 dias. O antibiótico já era e sobra-me apenas um Clonix. Mas o Clonix não é um comprimido qualquer... está reservado mesmo para emergências emergentes.
E eu cá continuo à espera da consulta. E só eu mesmo, pois a dor felizmente passou. Será que se cansou de esperar pelo tratamento? Epá, só sei é que espero que não volte tão cedo. Oxalá!

6.2.08

Onde o Rio se sente Mar



Bico do Rio Kwanza. Um braço de areia branca que adia e suaviza o confronto inevitável entre o imenso rio e o mais imenso mar. Foi esse o nosso feliz destino no passado fim-de-semana. Penso que já era esse o nosso destino, mesmo antes de o sabermos... Tem sido assim em tudo o que acontece: simplesmente tudo o que acontece é porque fazemos acontecer.
Foi até decisão de última hora, de um último instante para uma viagem inadiável. Isto porque se disse que era uma espécie de santuário de tartarugas e tal, e era agora o momento e ali o sítio certo para as ver no seu demorado ciclo de vida: criando vida. E fomos assim a tempo de dizer "vamos lá!" e comprar e arranjar tudo o mais que precisávamos para dois dias bem diferentes. Incluindo tendas. A verdade é que com toda a vontade e grandes amigos conseguimos tudo. E querer foi mesmo poder. Aconteceu.
A verdade também é que a princípio nem sabíamos o caminho. Só mais ou menos… Fomos num confiante "- Iá, acho que é por ali!", mas foi mesmo assim e por isso mesmo uma viagem magnífica. E já quase no fim, no “estamos quase lá!”, os nossos jipes enterraram-se parcialmente na areia quente, querendo ficar mesmo ali. Pensámos sorrindo. Olhámos para o horizonte e convencemo-nos a chegar mais à frente. "- Lá ao longe, mais perto!" Lá mesmo onde o rio se confunde no mar. E com a mesma e renovada amizade e ainda maior vontade, com muito calor de um sol de meio-dia e com menos ar nos pneus (grande ideia!), lá conseguimos alcançar o sítio desejado. E merecido.
A tarde passou-se assim merecida entre o mar e o rio. Entre o início do mar e o fim de um rio, numa beleza imprevista e incontável, só vivida pelas ondas daquele mar e pela corrente daquele rio. Nem sei bem qual o mais imponente. E só nós no meio, delirantes. Nós, o sol e a areia quente. E a geleira bem fresca junto ao mar. Ali ficámos assim, em frente ao mar e enfrentando as ondas até ao magnífico pôr-do-sol.


Passeio pela praia deserta. Uma tartaruga deu-nos a prova morta de que estávamos mesmo no sítio certo. Era ali! E a noite tornou-se assim inadiável ansiedade…

Montámos acampamento e aguardámos em amplos sorrisos, saboreando as estrelas e desafiando desafinados a sua distância com o som das nossas vozes e com o calor da fogueira. Almas aquecidas com um doce sabor a juventude.
Veio a noite apressada. Veio os vinhos e os queijos e os grelhados na fogueira. O gin tónico. As mesmas vozes se aqueceram e se dispersaram no silêncio harmonioso das ondas do mar. Depois, um novo passeio pela praia e sob as imensas estrelas. A luz de uma lanterna apontada pela noite e pelo mar adentro não nos deu de volta nenhum sinal de tartarugas… Desilusão? Nem por isso… Foi esta afinal a única coisa que faltou para tornar esta noite perfeita. E é tanto o mais que fica por dizer…

Adormecemos e acordámos sorrindo no dia seguinte, ao som das mesmas ondas do mesmo mar, e entregámo-nos de seguida à sua força e ao seu majestoso sabor. Continuação de um sonho, de um fim-de-semana que afinal foi mais que perfeito, e que terminou como já tantos outros, sempre nostálgico em cada inadiável regresso a Luanda. A verdade é que nem sempre o sonho termina… Este continua sempre e bem presente, como um início que agora sinto contínuo. Como o horizonte que observo em cada dia que passa. Como algo interminável, em cada sorriso que dou. Até ao infinito.

29.1.08

Além do Sul... a Porta do Tempo

Continua faltando-me o tempo. Reparo o meu tempo no presente e este já se encontra no passado. Tem sido assim, uma constante perseguição a alta velocidade. Sei que não o consigo fazer parar. - Ah... e era tão bom! Mas eis que senti que nele recuei, no passado fim-de-semana. Por entre montes e vales e grandes rochedos e floresta cerrada, cheguei à Gabela. E vejo que alguém ali conseguiu o que eu tantas vezes tenho desejado: parar no tempo, por muito tempo. Alguém. Talvez a própria natureza, que enclausura a pequena vila entre as montanhas que nem o tempo atravessa, ou mesmo a guerra que a isolou ainda mais do resto do país por anos e anos. Ou apenas a graça de Deus e dos homens que aqui souberam criar vida escondida do resto da vida e do tempo que passa. Nota-se tanto a presença dos portugueses... Como se ali ainda se vivesse antes de tudo, antes do nada. 30 anos antes. As casas, as ruas térreas, a igreja ao fundo da avenida, o mini-mercado e o café Royal, com os petiscos e a cerveja e o café caseiro servido com chávenas do melhor serviço da casa. E as pessoas que param para nos ver passar, e nos recebem na porta do tempo com um sorriso e simpatia de quem deseja que ali fiquemos por muitas mais horas. Dias até. Sim... Dá vontade.

No caminho que durou seis descansadas horas, e já bem perto do destino, algures no fim do tempo, paramos em deslumbramento nas cachoeiras do Sumbe. Um espectáculo que a mãe Natureza criou com arte desde o início de tudo, demonstrando aqui a força e a beleza infinda das suas criações. Senti-me pequeno e submisso, impotente e em incontrolável alegria e serenidade. Incrível a paz que vem com a força do rio.

Hesitando no ficar, acabamos por regressar bem tarde e pela noite dentro. E pela estrada fora nos acompanham milhões de estrelas, bem alto e bem visíveis num céu nunca antes visto, substituindo a luz da lua que hoje não veio ao nosso encontro. Regresso a Luanda a cantar, a sorrir e a sonhar meio acordado. Depois retomo renovado o meu tempo no dia seguinte. Conformado, ganhei ânimo para continuar perseguindo-o.

24.1.08

E o dia começa assim...


Luanda, 8.00 da manhã. Saio pela porta do 'meu' Hotel Presidente e respiro fundo. Inspiro e admiro incrédulo a imagem.

Suspiro aliviado...

Ontem cheguei ao hotel e só por acaso não estacionei ali mesmo...

Ah.... e a mancha preta no chão...? É gasóleo sim. Entro apressado no meu carrinho e sorrio, abandonando o local.

Sorte. Hoje só pode ser um dia bom...

22.1.08

Muito...

... trabalho!
Sinto que nunca estive tanto tempo sem escrever aqui e eu mesmo tenho saudades quando revisito este meu blog e o vejo meio abandonado. Parte de mim abandonada. E tanta coisa para dizer, tanta sensação vivida, tantos pensamentos por escrever... Mas ainda o tempo me consome... e se consome com o passar de cada instante.
Estou bem... Feliz. Como já o sabe quem me sabe sentir. Prometo que em breve recomeço a escrita. E recomeço porque quero e porque preciso de o fazer. Mas só depois. Agora tenho toda a minha vida em recomeço.
Até já.

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