Difícil não é sentir a falta de quem nos faz falta.
É pensar no tempo que falta, no tempo que não volta e sufoca, e nas voltas da vida que o tempo nos dá. Fica a esperança de que o tempo aqui me sorria e me traga a vida de volta.
E tem sorrido...


10.6.07

Dia 0 - A Preparação

"Faltará sempre alguma coisa depois de fechar a mala - é sempre assim, desta vez não será diferente."

Foi este o meu último pensamento ao sair de casa. Pensei e disse. A minha preocupação estava no que preciso de levar comigo, e não nas coisas que ficam. E isto porque não posso olhar para trás, mas apenas pensar no que há-de vir, e no que me espera lá longe.

Chove lá fora... Chove sempre nas despedidas. Será um presságio? Ok, é bom sinal! Recordo que tudo correu sempre bem com a chuva de outras despedidas.

Faço um esforço... e tento não chorar. Tento sempre parecer muito forte nestas alturas, não por orgulho mas sobretudo para minha defesa. Invento os sorrisos, escondo a tristeza e a angústia bem cá dentro. De facto, chorei de noite e sorrio agora, nem entendendo como consigo. Bem, se calhar sou mesmo forte! Hum... Não sei. Não me parece...

- Lágrimas é que não vale!
Lembro-me que foi a última coisa que disse no aeroporto, mesmo antes de virar as costas (e virei instantaneamente, porque desatei a chorar também...) e dirigir-me para a porta de embarque. É o sítio mais triste deste mundo... Pergunto-me quantas lágrimas não nos caíram ali, naquele local que tão bem representa a barreira entre a alegria e a tristeza, o certo e o incerto... Como se aquela porta fosse mesmo um virar de página nas nossas vidas? O bom, e o mau.
Não disse nem mais uma palavra... a partir desse momento estava só. E só então percebi que era real. E só então senti a falta que irei sentir. Só.

O avião parte com atraso... Dizem-me que é normal. Nem a presença do Mantorras (será que passou no detector sem apitar?) me deu algum conforto naquela altura... Quer dizer, até deu... Esbocei um sorriso quando trocámos um olhar e fiquei até com a impressão que ele me conheceu - Já não se pode andar na rua que é isto! - Mas não me pediu nenhum autógrafo.
Já no ar, vejo pela janela a ponte Vasco da Gama. Passa-la-ei no meu regresso, quando vier por uns dias a casa, daqui a uns... Meses?? Fecho os olhos, incrédulo.
- Será tudo isto um sonho mau? Meu Deus... Vai ser tão difícil!

E foi assim... Com o coração na boca (o meu terror em andar de avião não ajudou mesmo!) lá segui o meu destino - ou pelo menos prefiro pensar que fui eu que o escolhi e não Deus - e entrei no mundo dos sonhos e pesadelos, e também muita turbulência.
Só uma coisa me intrigava: como será Luanda?

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