Difícil não é sentir a falta de quem nos faz falta.
É pensar no tempo que falta, no tempo que não volta e sufoca, e nas voltas da vida que o tempo nos dá. Fica a esperança de que o tempo aqui me sorria e me traga a vida de volta.
E tem sorrido...


12.6.07

Dia 2 - A Realidade

Acordo bem cedo. Esperam-me na entrada do hotel.
Cedo me apercebo que é normal acordar cedo: aqui ás 8 horas todo o mundo está nos seus empregos. Ou tem de estar, pelo menos.
Ok... Nem todo o mundo: o transito lá fora continua um caos! Será que foi assim toda a noite? Centenas de carros e pessoas invadem a rua que é das principais de Luanda e liga o centro á baixa da cidade. É uma "Avenida da Liberdade", como me explicaram, tentando compará-la com Lisboa. Acho que só mesmo pela sua importância aqui, nada mais. Entre grandes prédios e carros, miúdos a vender de tudo pelo meio do trânsito parado e dos passeios imundos. Rua da Missão. São 30 metros apenas que separam o hotel do meu local de trabalho. Será assim nos próximos tempos. E será certamente assim até ao fim. 30 metros que se tornam em alguns 100, pois tenho a custo de evitar buracos, caixas de esgoto abertas no meio do passeio, carros e pessoas.
Pessoas! Tanta gente... O prédio de 12 andares tem 3 elevadores. Cabe sempre mais alguém. Soube depois que apesar de ter 3 elevadores, é raro não estar um deles avariado. Ou dois, pelo menos.
Vou até ao 6º andar. Fico feliz, são só 6 andares de sofrimento. Não pelo cheiro, que era de perfume barato, mas pela sensação de desconforto pelo silêncio que normalmente se dá nos elevadores. E além do mais sinto-me observado.
Simpatia. Toda a gente me sorri e me trata bem. Como "Dr.". Dizem-me que aqui é normal ser assim. Isso e andar de fato e gravata. É curioso ter de ser essa uma das minhas muitas preocupações aqui. Ah! E andar sempre com cartões de visita. Mas felizmente vim prevenido para estas situações.
As instalações trouxeram-me de volta a mesma sensação que tive no aeroporto: será que recuei no tempo?
A vista a oeste é lindíssima. Vê-se toda a baía ao longe, mas ao mesmo tempo tão perto. Nota-se a presença dos portugueseses em alguns edifícios que cá deixaram, mas que eu ainda desconheço o que são, para que servem e qual o seu nome. Saberei tudo em pouco tempo, espero...
Após o protocolo boas vindas e saudações cordiais de toda a manhã, acabo por ir almoçar. O motorista leva-me ao "Embaixador". Restaurante português. Agradável, boa comida, algo caro... e muito (mas mesmo muito!) demorado. Caro aqui é tudo, mas este consegue ser mais. Mas gostei... Da comida e sobretudo da companhia de pessoas da mesma empresa que aqui estão também. E dá para matar um pouco a solidão e as saudades de casa.
Á noite sinto o conforto de ver na TV os canais portugueses. As notícias, as novidades, e até as novelas que nunca vejo.
Não há net nos quartos, apesar das instruções que estão na secretária me apelarem ao contrário.
- Só no bar, dizem-me na recepção. E aqui estou, agora mesmo, a fazer passar o tempo e a matar saudades e contar novidades a quem passa por mim, aí desse lado.
Agora já sei qual o meu espaço aqui. O meu dia a dia, e as pessoas que o preenchem.
Dou-me por satisfeito, sobretudo pela simpatia que tudo me transmite. Tudo e todos.

1 comentário:

Orlando Gonçalves disse...

1º Dia é sempre aquela coisa. Pela tua descrição parece que lá estou e vejo-te andar esses trinta metro que te separam do hotel até ao edificio onde vais trabalhar. Deve doer vêr assim tanta miséria.
Meus Deus que contraste que existe.
Espero vêr pelos teus olhos coisas melhores, vou lendo o resto.

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