Difícil não é sentir a falta de quem nos faz falta.
É pensar no tempo que falta, no tempo que não volta e sufoca, e nas voltas da vida que o tempo nos dá. Fica a esperança de que o tempo aqui me sorria e me traga a vida de volta.
E tem sorrido...


26.6.07

Dia 16 - O Trabalho

Tenho de falar sobre o trabalho. Não apenas para que não pensem que sou apenas um turista em Luanda (doido), mas sobretudo porque me impressiona muito. Não o trabalho em si, mas as pessoas no trabalho. E pela positiva.
Para mim seriam autênticos mártires só pela hora a que acordam todos os dias. 5 da manhã já chega a ser tarde para sair de casa. Antes ainda, cuidam de si e dos seus. Deixam os seus aos cuidados de outros, da rua ou de uma escola para os mais afortunados. Passam duas ou mais horas no trânsito de todos os dias. Chegam à empresa ás 8. Ou antes disso, com sorte.

Ás 8 acordo eu. 10º andar do hotel. Desco o elevador e ando 30 metros. Subo o elevador. 10º andar da empresa. Estou no trabalho.
Contrariado e com o meu péssimo humor matinal, confronto-me logo no elevador com a simpatia sempre presente desta gente bem disposta. Esboço um sorriso de resposta. Com esforço. Afinal é o meu sorriso apenas uma amostra. Um sorriso que se mostra mas não se sente. E não se sente como esta gente sente. No sentir, sou inferior a esta gente.
Organização e disciplina. Com poucos recursos, onde o Windows é 98 e a internet um mito urbano, a organização é exemplar. As secretárias sempre cheias de pastas e papéis. Não cabe mais nada e todos os dias é assim. No dia seguinte as secretárias de novo cheias de pastas e papéis. E tudo se repete e renova de dia para dia. Mas cada pasta tem um propósito e cada papel uma data. A desse dia.
Ligam muito à hierarquia, é verdade. Respeitam muito os Senhores e os Doutores, pois assim foram ensinados. Respeitam a empresa e por ela vestem a camisola. Em tudo. E sabem o que fazem e o que têm de fazer. E fazem o melhor que sabem.
O trabalho aqui é uma bênção, que se agradece com a dedicação e o sorriso de todos os dias. E eu sorrio também, com o prazer de partilhar com eles estas horas do meu dia e aprender com a sua humildade e modo de vida. E tenho muito ainda para aprender. Muito.

2 comentários:

Anónimo disse...

Oi, Nepo:

Sabes o que me inspira o teu último post? Que esta Europa Ocidental caminha arrogante para a pobreza de espírito e riqueza espiritual. Mas é comum a todos os povos.
Aproveita para te contar que acabei de vir do residence, zona poluída de gente 'chique.
A arrogância com que reclamam as coisas é duma repugnância nauseante, sobretudo pela pobre gente atrás do balcão, digerindo a má educação e falta de civismo diariamente.
Nepo, estou contigo. Um grande abraço

Anónimo disse...

Errata:

queria dizer riqueza material e não repetir espirtual

sorry

Tozé

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