Já acordei triste para este dia, após mais uma noite de curtas horas de sono e muitas voltas na cama. Um sono perturbado. Assaltava-me o pesadelo desta realidade das ruas... Retinha ainda no pensamento a imagem da noite passada. A imagem da pobreza vista nas ruas e revista ao jantar, em que a 'boa vida' à minha mesa contrastava com as crianças e adultos que, ali mesmo ao lado, nos abordavam em fila e pediam um pouco de comida
- Senhor, para eu jantar hoje, por favor.
Dezenas de pessoas. Ali estão, todos os dias, esperando as nossas migalhas. As minhas não dei. Se der um dia mais dias e mais pessoas virão. Custa-me, mas aqui aprendemos forçosamente a ser frios. A ser diferentes e distantes, e tenho tido também nisso uma (des)agradável surpresa do meu próprio ser. Tornei-me indiferente. E dormi a pensar nisso.
Hoje senti também a falta de quem me falta. Hoje mais que nunca nestes dias queria estar ao seu lado. Sentir-me perto, nem que fosse só para partilhar o calor de um abraço. Durante o dia não tive internet. Nem no trabalho, nem no hotel. Não tinha acesso a mail nem telefone para o exterior. Coisas tão simples... que tal como a luz sempre me habituei a ter sempre. Mas não aqui. Estava por isso isolado e incontactável. Mas mais que isso sentia-me preso e amordaçado por tentar 'estar' com o meu mundo e com as pessoas que são o meu mundo e não conseguir. Nem trabalhar.
A noite chegou tarde, neste dia que se arrastou num completo isolamento. Mas melhorou. Fomos jantar ao Bahia, um restaurante lindíssimo sobre a baía de Luanda. É mais um sítio para recordar e revisitar aqui. Um ambiente calmo, muito romântico até, com uma varanda de apetitosos sofás iluminada a meia luz por velas nas mesas escuras e inundada por uma música calma e familiar. Toda a baía no nosso olhar, toda nossa. E senti-me melhor.
Tomámos um último gin no Chill Out... Acho que estávamos com saudades (não do Gin). Com sorte a música do Bahia perseguiu-nos até lá, e com ela estivémos um pouco - com os Eagles, U2 e UB40. A matar saudades mesmo! Mas a viagem para lá foi mais uma aventura. A polícia, tal como a música, também nos perseguiu. Mandou-nos parar. Mas ao volante do nosso Cherokee (como é que se escreve mesmo...?) e com um pára-arranca fenomenal a M. trocou-lhes os olhos e fugimos depois a abrir. Normalíssimo.
Sim, a noite foi um contraste do dia. Acalmou-me, fez-me sorrir um pouco e mandou embora a tristeza e a saudade. E por momentos, senti-me perto. Mas hoje não consegui passar um minuto sem a tua presença. Tornou-se inevitável. Para mim este meu dia foi teu e tu foste todo o meu dia. Infelizmente, todo ele foi a tua ausência.
Hoje imaginei ter-te comigo aqui. Fica a vontade.
4 comentários:
Fica também aqui expressa a vontade de te ver de novo e de te apertar naquele abraço carregado de amizade...força miudo.
H
oh tão fofinho!
Tenho a certeza que a Ana também tem dias assim... nós também ao lermos o teu blog, sentimos muitas saudades e aguardamos ansiosos o teu regresso... é bom e saudável estes dias, faz-nos pensar o quanto é importantes as pessoas que o são.
Beijos e abraços
Carla, Carlos, Tiago e André
Um abraço Amigo
Nor
Isso eh praticamente uma poesia...quanto sentimento!!!
Grande abraco eternizado pelos dias!!! Dias (tristes ou felizes)necessarios quem sabe para um futuro mais proximo!
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