Difícil não é sentir a falta de quem nos faz falta.
É pensar no tempo que falta, no tempo que não volta e sufoca, e nas voltas da vida que o tempo nos dá. Fica a esperança de que o tempo aqui me sorria e me traga a vida de volta.
E tem sorrido...


7.8.07

Dia 58 - Finalmente

São dez da manhã e já aguardo impaciente no bar do hotel por alguém estranho que me irá levar ao aeroporto, onde também já tenho alguém que não eu a fazer em meu nome o demorado check-in . Por isso já tudo entreguei: o passaporte e o bilhete, as malas e até a própria alma.
Duas horas e gin tónicos depois chega o meu transporte e com um rápido 'até breve' me despeço do hotel que foi por todos estes dias a minha casa e que continuará a sê-lo quando eu voltar. Chego ao aeroporto através do trânsito infernal das horas de almoço e o Sr. Prazeres me recebe à entrada com o meu cartão de embarque, o meu passaporte e o seu sorriso de quem sabe sorrir. Para aquele momento não podia haver melhor apelido.
Aguardo impaciente e incrédulo na sala de embarque, depois de ter sido encaminhado (como a quase toda a gente) até uma pequena sala com uma secretária vazia onde por detrás dela um homem igualmente pequeno nos pergunta:
- Dólares ou Kwanzas?
Deu-me vontade de responder: - Hum... prefiro Dólares. Tem aí pra mim?
Mas a verdade é que a pergunta era outra, tal como a finalidade. Se eu levasse algum dinheiro comigo teria de ficar com ele (e para ele). Francamente... Respondi que não, enquanto sentia com os meus dedos no bolso traseiro das calças os dólares e kwanzas que trazia comigo. Muitos! E trouxe.
O voo parte com atraso, pois na hora prevista de partida ainda eu desesperava na sala de embarque. Mas partiu e para mim foi das melhores viagens que tenho feito. Talvez mesmo a melhor, pela simpatia e qualidade do serviço, pela calma e sossego no interior e lá fora e, claro, pelo destino. É sempre bom voltar a ver através da janela a ponte Vasco da Gama e sentir novamente os meus pés assentes no meu chão. É bem bom ver os meus que me esperam e matar assim as saudades que desesperam. É a felicidade plena de quem regressa e se alegra, mesmo sabendo que o bilhete tem ida e tem volta.
Olá a todos! Regresso dia 26.
Até breve.

6.8.07

Dia 57 - O Hábito

Estranho hábito este de me levantar e ir trabalhar mesmo quando não tenho de o fazer. Mas assim foi. Dei volta aos papéis em volta e tentei-os arrumar sem esconder, para que não me falte nem sobre nada quando eu regressar. Em dia de despedida preparo assim o meu regresso, já daqui a três semanas.
Com uma reunião apenas se justificou este meu dia e todo o anunciado adiar da minha partida. Hoje tinha que cá estar, e por um lado ainda bem que assim foi. Um lado sombrio, é certo, mas ainda bem.
Sinto um estranho nervosismo enquanto vejo as horas passar, que atribuo à ansiedade pelo chegar da hora da partida. É curioso: sinto-me feliz por partir amanhã, mas também me sinto feliz por saber que volto. E penso que é bom sinal.
Despeço-me dos lugares das pessoas e das coisas com um até breve sincero e suspiro com nostalgia antes de fechar docemente a porta da minha sala. Por agora, já está.

5.8.07

Dia 56 - O Pequeno Almoço

Acordo bem disposto antes das dez da madrugada e bem a tempo do pequeno almoço no hotel. Desço até ao amplo salão e sinto que toda a mesma gente pensou no mesmo à mesma hora neste mesmo domingo de tranquilidade. Mas tranquilo continuei, conseguindo escolher com dificuldade uma mesa para me sentar. Só eu.
Confesso que não sou muito de pequenos almoços, e ao acordar a comida fica sempre para bem depois ou nunca depois, mas hoje apeteceu-me. Mais que a fome que não tinha sentia-me com vontade de aproveitar as horas da melhor forma como sendo as últimas, e como se precisasse de informar o próprio dia que estou quase de partida, com claros e serenos gestos de despedida.
Preparo um croissant misto e acompanho-o com sumo de laranja. Depois o bacon e os ovos mal mexidos. Depois ainda a fruta fresca e termino em grande com o café expresso. Como vêm, é um típico pequeno almoço africano...
O dia mostra-se cinzento através da parede de vidro que separa a sala de refeições do verde azul do relvado e da piscina lá fora. Reparo que nas mesas à minha volta vive-se também a calma de um domingo de paz, até mesmo nos rostos cansados daqueles lá ao canto que, bem sei, hoje mesmo chegaram no primeiro avião que veio de Lisboa. Há cinquenta e seis dias era assim, como o deles, o meu rosto. Hoje felizmente sorrio nostálgico ao recordar a minha chegada.
Prolongo-me em pensamentos distantes ao som das vozes em meu redor, e deixo-me ficar ouvindo um pouco mais, acompanhando assim sem convite as conversas dos outros. Notícias frescas da terra. Mas tenho todo o tempo que dura um dia para passar este domingo da melhor e mais rápida forma que conseguir inventar. E não foi preciso pensar muito... Felizmente tenho os meus muitos livros que trouxe e que felizmente não li e nem terminei um só, por falta de tempo. É hoje afinal.
Faltam 2 dias.

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