Difícil não é sentir a falta de quem nos faz falta.
É pensar no tempo que falta, no tempo que não volta e sufoca, e nas voltas da vida que o tempo nos dá. Fica a esperança de que o tempo aqui me sorria e me traga a vida de volta.
E tem sorrido...


8.9.07

Bom Dia Camaradas

“Às vezes numa pequena coisa pode-se encontrar todas as coisas grandes da vida. Não é preciso explicar muito, basta olhar...”

Esta é uma pequena frase num pequeno livro que escolhi ler. ‘Bom dia Camaradas’, de Ondjaki, é todo ele saudade de outros tempos desta Luanda. Tempos outros em que a guerra consumia a esperança do povo e a felicidade se encontrava nas pequenas coisas da vida. Memórias de escola e de rua de uma criança de sorte. Recordações do povo cubano que ainda vive por cá, presente na lembrança. Riqueza das coisas pobres.
Ao ler este livro, tenho já a sensação de o conseguir entender. Conheço quase o passado. E conheço-o observando a cidade de hoje, as ruas de hoje, as pessoas de hoje, o povo de sempre. Observo todos os dias o presente e entendo assim o passado, quase presente. Basta olhar.
E ao ler este livro, quase que se sente. Luanda.

5.9.07

A Chuva

Sete da madrugada.
Acordei do sono com a chuva a bater levemente na janela do meu quarto. Num instante sem despertar mantive os olhos bem fechados e apenas imaginei. Olhos bem fechados. Prolonguei em mim por momentos a reconfortante sensação de estar no conforto do meu quarto da minha própria casa numa manhã de um saudoso domingo de chuva. Olhos bem fechados. Imaginei que não existe pressa para levantar e senti que me poderia deixar assim ficar e ir ficando neste calmo e lento despertar dos sentidos. Olhos bem fechados. Adormeci de novo, embalado por este sabor a casa que é desejo repetido destes sonhos quase despertos no meu acordar de todos os dias.
Ah... Como é bom estar em casa!
Abre-se a porta.
- Bom dia, sim? Desculpe, sim?
Fecha-se a porta.
Confuso e desperto olho para o relógio e cedo volto à realidade. Estou em Luanda. No hotel. Olhos bem abertos. Levanto-me com uma pressa inadiável em acordar para outro dia. Olhos bem abertos. Estou atrasado!
Paro então de imaginar e também lá fora a chuva parou. Aproximo-me da embaciada janela e observo as últimas gotas que caem do céu. Choveu mesmo, mas tudo o resto foi um sonho apenas.
Ah... Bendita chuva, que hoje me levaste a casa e te demoraste a trazer de volta a Luanda. Acorda-me sempre assim! Mas olha... Se quiseres, não me tragas de volta.

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