Difícil não é sentir a falta de quem nos faz falta.
É pensar no tempo que falta, no tempo que não volta e sufoca, e nas voltas da vida que o tempo nos dá. Fica a esperança de que o tempo aqui me sorria e me traga a vida de volta.
E tem sorrido...


6.2.08

Onde o Rio se sente Mar



Bico do Rio Kwanza. Um braço de areia branca que adia e suaviza o confronto inevitável entre o imenso rio e o mais imenso mar. Foi esse o nosso feliz destino no passado fim-de-semana. Penso que já era esse o nosso destino, mesmo antes de o sabermos... Tem sido assim em tudo o que acontece: simplesmente tudo o que acontece é porque fazemos acontecer.
Foi até decisão de última hora, de um último instante para uma viagem inadiável. Isto porque se disse que era uma espécie de santuário de tartarugas e tal, e era agora o momento e ali o sítio certo para as ver no seu demorado ciclo de vida: criando vida. E fomos assim a tempo de dizer "vamos lá!" e comprar e arranjar tudo o mais que precisávamos para dois dias bem diferentes. Incluindo tendas. A verdade é que com toda a vontade e grandes amigos conseguimos tudo. E querer foi mesmo poder. Aconteceu.
A verdade também é que a princípio nem sabíamos o caminho. Só mais ou menos… Fomos num confiante "- Iá, acho que é por ali!", mas foi mesmo assim e por isso mesmo uma viagem magnífica. E já quase no fim, no “estamos quase lá!”, os nossos jipes enterraram-se parcialmente na areia quente, querendo ficar mesmo ali. Pensámos sorrindo. Olhámos para o horizonte e convencemo-nos a chegar mais à frente. "- Lá ao longe, mais perto!" Lá mesmo onde o rio se confunde no mar. E com a mesma e renovada amizade e ainda maior vontade, com muito calor de um sol de meio-dia e com menos ar nos pneus (grande ideia!), lá conseguimos alcançar o sítio desejado. E merecido.
A tarde passou-se assim merecida entre o mar e o rio. Entre o início do mar e o fim de um rio, numa beleza imprevista e incontável, só vivida pelas ondas daquele mar e pela corrente daquele rio. Nem sei bem qual o mais imponente. E só nós no meio, delirantes. Nós, o sol e a areia quente. E a geleira bem fresca junto ao mar. Ali ficámos assim, em frente ao mar e enfrentando as ondas até ao magnífico pôr-do-sol.


Passeio pela praia deserta. Uma tartaruga deu-nos a prova morta de que estávamos mesmo no sítio certo. Era ali! E a noite tornou-se assim inadiável ansiedade…

Montámos acampamento e aguardámos em amplos sorrisos, saboreando as estrelas e desafiando desafinados a sua distância com o som das nossas vozes e com o calor da fogueira. Almas aquecidas com um doce sabor a juventude.
Veio a noite apressada. Veio os vinhos e os queijos e os grelhados na fogueira. O gin tónico. As mesmas vozes se aqueceram e se dispersaram no silêncio harmonioso das ondas do mar. Depois, um novo passeio pela praia e sob as imensas estrelas. A luz de uma lanterna apontada pela noite e pelo mar adentro não nos deu de volta nenhum sinal de tartarugas… Desilusão? Nem por isso… Foi esta afinal a única coisa que faltou para tornar esta noite perfeita. E é tanto o mais que fica por dizer…

Adormecemos e acordámos sorrindo no dia seguinte, ao som das mesmas ondas do mesmo mar, e entregámo-nos de seguida à sua força e ao seu majestoso sabor. Continuação de um sonho, de um fim-de-semana que afinal foi mais que perfeito, e que terminou como já tantos outros, sempre nostálgico em cada inadiável regresso a Luanda. A verdade é que nem sempre o sonho termina… Este continua sempre e bem presente, como um início que agora sinto contínuo. Como o horizonte que observo em cada dia que passa. Como algo interminável, em cada sorriso que dou. Até ao infinito.

Blog Directory - Blogged