Difícil não é sentir a falta de quem nos faz falta.
É pensar no tempo que falta, no tempo que não volta e sufoca, e nas voltas da vida que o tempo nos dá. Fica a esperança de que o tempo aqui me sorria e me traga a vida de volta.
E tem sorrido...


24.3.08

Águas Passadas


Páscoa. Cumpri feliz a tradição que se cumpre por esta altura da minha terra natal e fui também passar as àguas. Não o fiz propriamente como Moisés, pois não tenho, infelizmente, esse poder nem mandamento. Mas a vontade era essa: abrir um pequeno trilho através do imenso mar, e seguir caminhando, em passos rápidos, a caminho da minha aldeia por estas alturas do ano. Até que tentei... mas não deu: apenas o consegui com o pensamento... Acho que é porque estou em Angola afinal... e vendo bem as coisas, já cruzei o oceano e cheguei à minha terra prometida. Aqui. Por isso digo apenas que fui até junto do mar, passar o fim-de-semana. Apenas para viver e recordar. Apenas para estar mais próximo, por breves momentos.

Ficámos a sul, na praia de Sangano, por dois dias e uma noite. Por dois dias cheios de sol e por uma noite cheia de luar, com a lua deslizando misteriosa e ardente pelo céu, como um foco de luz que nos ilumina em pleno palco.
Artistas. Montámos nossas tendas no final do dia, enquanto se montava o cenário da noite e do mar atrás de nós. Seguiu-se um óptimo jantar no Pirata, o resort ali mesmo ao lado que serviu para nós como autêntico porto de abrigo para as necessidades básicas: comer, beber, e seus derivados.

Depois foi o acto final, concluído com aplausos em apoteose: um banho de mar à meia noite, assistindo à dança de carangueijos por entre as brancas ondas beijando a areia em suaves e borbulhantes carícias. Eram reflexos de lua em movimento, numa autêntica festa da espuma. E nós éramos ali apenas sombra, seres estranhos invadindo esse rito natural de todas as noites. Mas o mar logo nos convidou a entrar, mesmo sem termos convite. A lua dava-lhe cor e calma, luz e alma, ao mar e a nós mesmos, e fez-nos assim sentir parte viva e integrante deste magnífico palco que é a mãe natureza.
Nesta Páscoa cumpri feliz a tradição e passei as águas mesmo aqui em Angola. Passei as águas e deixei para trás todas as águas passadas.

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