Mas afinal eu sei que apenas é necessária uma: Apaixonante!
Adorei o Lubango. Amei. A antiga Sá da Bandeira invadiu-me a alma e o coração de uma forma que nem eu sei explicar. Foi tão intensamente forte! Compreendo agora a paixão que Angola transmite, a quem aqui veio e ficou, ou a quem veio para ficar. Compreendo agora que Angola não é só Luanda, felizmente! Aliás, Luanda não é Angola. Ponto.
Mas vou começar pelo princípio: Sábado, 4 horas da manhã, Aeroporto 4 de Fevereiro em Luanda - Voos domésticos. Fico desiludido porque afinal o aeroporto nem é mau de todo. Tem sala de espera, com ar condicionado e um bar. Bom ar. Estranho, tinham-me dito tão mal! Seguiram-se aqui 4 horas de ansiedade e de sono pelo avião que só partiu depois das 8 da manhã. Outra desilusão: o avião afinal era novo!?! Assim não! Eram condições a mais. Inesperadas! Mas o destino que me esperava era Lubango. Ainda mais inesperado.
Chegamos lá a meio da manhã. Tarde. Longa se torna a espera até todos estarmos reunidos e partir enfim para uma casa que teríamos ainda de procurar... E procurámos.
Lubango fica num vale, entre montanhas. A sensação que nos dá é de que estamos em Portugal, numa vila serrana qualquer, nas Beiras. Protegido e escondido entre as montanhas, como se qualquer chegada aqui fosse uma grande descoberta para quem a encontra. Fascínio quase irreal.
As ruas largas limpas e decoradas por casas baixas e coloridas. As pessoas. As crianças brincando na rua, em mistura de cores numa única cultura. Sem raças nem distinções. Os edifícios principais, coloniais e monumentais que surgem na ampla praça da cidade, com fontes luminosas entre os arrumados passeios e as árvores de fruto. Jardins. Tudo isto me dá a perfeita sensação de que descobri, encontrei Portugal em Angola. E encontrei-me a mim mesmo também. Sim.
Subimos à tarde pela serra, nove pessoas com uma “Hiace” (aqui lê-se tal e qual como se escreve) por montes e vales e rochas, até à mãe das contemplações. A Tundavala. A Tundavala é uma fenda da mãe natureza, a dois mil metros de altitude, e que nos assombra com uma visão estonteante. Vertiginosa para os sentidos. Silêncio. Calma. Religioso até… É um corte quase perfeito na rocha, a direito e a pique, por dois mil metros. Lá em baixo, muito baixo, até onde a vista pode alcançar, é o perfeito deslumbramento. O horizonte aos nossos pés, bem lá em baixo. Incrível!
No dia seguinte seguimos cedo o caminho longo para o mar, em direcção ao Namibe. Antes paramos para redenção no Cristo Rei, que abraça toda a cidade do alto da serra. E que desejo o meu, de a abraçar também!
Continuamos depois a viagem pela estrada quase deserta, chegando pouco depois à Serra da Leba. Serpente que desce a colina em perfeita comunhão. Sim, a foto do post anterior… mais palavras para quê?
Depois da serra a estrada deserta chega ao deserto. Imponente, mesmo. Paisagem quase lunar, e bem mais perto do sol. Do céu! De mim… Beleza pura, sensação de liberdade. Vontade de estender os braços e gritar bem alto os nossos sonhos e desejos. Fascinante. Silêncio de novo, com olhos bem abertos de contemplação. Inesquecível.
Chegamos ao Namibe. Cidade calma, arrumada e limpa, bem junto à praia. Com ar de praia. Linda. Mergulhamos e bebemos um pouco mais desta sensação de estar tão longe de tudo, e ao mesmo tempo tão perto de nós. Um almoço, um passeio pelas praias ali perto, um sol que se esconde depois entre as nuvens. Um adeus de repente, um regresso prometido. Voltamos enfim ao Lubango, revisitando o deserto que o sol escolheu para dormir.
A noite trouxe as estrelas que nos fizeram companhia. Testemunhas. E tantas estrelas! O céu inteiro! A elas pedi desejos eternos, outros fugazes, mas desejos sinceros. E na varanda de casa me fui perdendo, ou encontrando, inspirando toda a cidade que dorme aos meus pés. Visão presente, em passado e futuro reunidos. Começo assim a sonhar ainda antes de adormecer. Adormeço depois a sorrir. Cansado, mas a sorrir.
Segunda-feira foi dia de regresso. Atribulado e triste pelas sensações que ficam em nós mas que se deixam de viver, assim. Não só pelo que se deixa e se viveu para trás, mas sobretudo pelo regresso a Luanda, pelo que se reencontra e que aos nossos olhos nos parece ainda mais triste e degradante. Choveu no regresso, como se Lubango chorasse o nosso adeus, tal como nós choramos a nossa despedida, como o final das emoções vividas. A vontade era de ficar… Lubango. Mão no peito, olhar no infinito. Mais umas horas, uns dias, quem sabe. A vontade é de regressar, por mais uns dias, umas semanas, talvez. A vontade real é talvez de ir e ficar. Vida inteira, quem sabe. Fica a vontade.
Sim, foram momentos vividos que ficarão em mim para sempre. Sim, foi um deslumbramento para a vida e que estará sempre presente. Sim, para sempre. Ficaria lá para sempre. Quem sabe? Só Deus sabe…
Bem, cheguei bem perto das mil palavras afinal... E voltando de novo ao resumo inicial, preciso afinal de mais duas palavras: Mágico. E Eterno.