Difícil não é sentir a falta de quem nos faz falta.
É pensar no tempo que falta, no tempo que não volta e sufoca, e nas voltas da vida que o tempo nos dá. Fica a esperança de que o tempo aqui me sorria e me traga a vida de volta.
E tem sorrido...


27.7.07

Dia 47 - O Fado

Sexta feira é um bom dia. Um fim de semana que começa cedo, logo na sexta à noite. E hoje foi um dia de emoções para mim, pois conduzi pela primeira vez em Luanda. E pela primeira vez também conduzi um carro com mudanças automáticas. Emoção dois em um. Custa só os primeiros minutos... até comprovar que se puser um pé no acelerador e outro no travão o carro não anda mesmo. E conduzir em Luanda afinal é fácil! Basta sermos igualmente loucos.
Começou em grande, pois logo ao sair da garagem do hotel fui mandado encostar pelo xôr agente da autoridade e seu apito de brincar que me obrigou a pagar uma gasosa, por 'não' ter respeitado um sinal que 'não' havia. Literalmente disse-me:
- Eu só queria um suminho...
Enfim, foi bem mais arrojado do que pedir gasosa... E pela imaginação, inovação e graça, dei-lhe 1000 Kz.

Desta vez fomos descobrir com surpresa um restaurante bem engraçado, junto ao estádio dos Coqueiros aqui na baixa da cidade. O Tia Maria, no Clube de Ténis de Luanda. Um leão enorme à porta não deixa margem para errar - era mesmo aquele o sítio. É ao ar livre, sobre um jango enorme, bem decorado a velas e mosquitos e bem junto aos vários campos de ténis vazios mas iluminados. Uma mesa já nos esperava, para compensar o tempo que haveríamos de esperar depois para que viesse finalmente o que pedimos - uma moqueca de marisco. Espectáculo!
Mas a surpresa mais que surpresa veio logo depois. Um grupo de fadistas se levanta e começa a encher a nossa noite de música de saudade e nostalgia. Lembrei-me ao som das guitarras que hoje mesmo estaria concerteza na minha terra em plenas festas da aldeia. Lembrei-me de quem canta comigo e das saudades que tenho de os ouvir cantar. Recordei tudo aquilo que o nosso fado nos traz e que nos aquece o coração, e com isso fiquei um pouco triste, é verdade, mas ao mesmo tempo senti-me bem mais perto dos meus, mesmo estando aqui tão longe.
Bem finda a fase da nostalgia e já com algum aperto no coração, saio do fado e regresso ao meu Chill Out (já vos disse que é mesmo muito bom?). Acompanho a lua sozinha e cheia no mar e na areia da praia, e ela me faz igual companhia, ao som de um som que não é fado mas que tem sido o meu fado por aqui.
Penso no que daria hoje para estar com vocês desse lado, e sorrio por pensar que mesmo a esta distância temos sempre a lua para compartilhar. A mesma lua que sempre nos acompanha no tempo e na distância, para provar que nem tudo muda com a ausência e o passar dos anos.
Pouco depois um telefonema encheu-me o coração e fez-me chorar. Já esperava que fosse assim... é sempre assim quando não estou.
A. - meu grande amigo, para ti um abraço forte!

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